Além da legislação e da tecnologia, pontos presentes nas discussões sobre a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), é possível elencar outros pontos de extrema importância que envolvem essa língua, por exemplo, a interação social e a comunicação, o que impacta diretamente no
desenvolvimento de um indivíduo dentro da sociedade.
O ensino de língua de sinais chegou no Brasil e começou a ser disseminado em meados de 1900 através de um francês que tinha surdez. Nesse período, foi fundado uma escola para meninos surdos, que hoje é o INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos). Apesar de ter chego muito anos atrás no Brasil, a Libras só veio a ser reconhecida como uma língua bem mais tarde, somente em 2002. Mesmo com a disseminação da língua ao longo do tempo e com o aumento de profissionais bilíngues, ainda há muitas barreiras de comunicação na vida das pessoas com surdez. Elas têm muitas dificuldades para resolver assuntos pessoais em bancos, cartórios, compras em supermercados, ida a hospitais, até dificuldades de locomoção; muitas vezes não conseguem resolver seus problemas por simplesmente não ter disponível um intérprete de Libras nesses diversos setores, já que a língua foi oficializada recentemente.
Não é preciso ir muito longe para saber sobre essas dificuldades, basta entrar em alguma rede social para se deparar com diversos depoimentos das pessoas com surdez e de seus familiares, expondo principalmente as barreiras no acesso à escola e cultura. “Diversas cidades não possuem profissionais bilíngues adequados para atender os alunos com deficiência auditiva e muitos acabam não frequentando escolas, crescem sem amigos e sofrem com o preconceito”, é o que relata um desses perfis. Muitas vezes, o não acesso à escola restringe mais ainda essas pessoas a serem alfabetizadas e letradas em LIBRAS, afinal, se esses indivíduos não adquirem e desenvolvem a linguagem para a comunicação, como conseguirão autonomia para resolver seus problemas e assuntos pessoais básicos? Por esses motivos, a obrigatoriedade do ensino de LIBRAS nas escolas tem sido destaque nas discussões em fóruns, eventos relacionados à área educacional e nas comissões das casas legislativas.
Para se ter noção do impacto que essas barreiras na comunicação causam na comunidade surda, os dados do IBGE mostram que cerca de dez milhões de pessoas apresentam surdez. Deste total, cerca de três milhões são surdas (de grau severo e profundo) e sete milhões têm dificuldades para ouvir (de grau leve e moderado). Ou seja, há milhares de pessoas que sequer frequentam escolas e têm acesso restrito à cultura, lazer e esportes, por exemplo.
Apesar da Lei 10.098, que visa a promoção da acessibilidade para as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, estar em vigor desde 19 de dezembro de 2000, e os avanços ao longo da história da LIBRAS no país serem positivos, ainda há muito a se progredir, principalmente quando se coloca em pauta a obrigatoriedade do ensino da LIBRAS nas escolas – que ainda está em tramitação nas casas legislativas do país. O que a comunidade surda espera é que a inclusão aconteça 100%, e que, de fato, esse acesso modifique os pensamentos, quebre as barreiras na comunicação e preconceitos, “eles não exigem o impossível, eles só querem ter visibilidade e acesso a qualquer conteúdo totalmente sem barreiras como qualquer outro cidadão brasileiro. Ir a um cinema e conseguir comprar uma pipoca usando a LIBRAS, por exemplo. Eles querem interagir com as pessoas”, relata a mãe de um adolescente surdo em seu perfil nas redes sociais.