Paula Pfeifer, 33, foi diagnosticada aos 16 anos com deficiência auditiva bilateral neurossensorial e progressiva, que é a perda auditiva com o tempo, devido a problemas na cóclea. A doença chega a afetar 10% da população mundial, segundo a Organização Mundial de Saúde. Mas, isso não a impediu de fazer tudo o que sonhava.
Formada em ciências sociais pela UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), Paula é surda oralizada e fala português, inglês e espanhol. Tem uma rotina intensa como funcionaria pública, mas, apesar disso, administra dois blogs e já tem um livro publicado.
Paula não vê sua trajetória de vida como superação, mas como algo que foi colocado em sua vida e teve que conviver. “Eu não superei nada, apenas me adaptei da melhor forma que consegui às circunstâncias que a vida me impôs.”
Seu blog, “As Crônicas da Surdez”, ajuda muitos a entenderem o que é conviver com a deficiência auditiva. Criado em 2010, a página virtual nasceu pela necessidade de se criar um espaço para discussões sobre a deficiência. Lá é possível encontrar muitas histórias de superação e posts sobre a condição.
Em um dos relatos, a autora dividiu com todos os leitores a cirurgia de implante coclear e a sua recuperação. Já faz um ano que o procedimento foi realizado e, mesmo assim, ainda vem modificando a vida da cientista social: “O privilégio de voltar a ouvir através da tecnologia.”, afirmou.
Sobre acesso à informação, Paula acredita que a acessibilidade no Brasil é muito importante e precisa de avanço: “Precisamos de closed caption em todos os programas de TV e os canais pagos precisam parar urgentemente de dublar toda a programação. Querem dublar? Ótimo, isso ajudará muitos deficientes visuais, mas não esqueçam dos surdos, coloquem legendas.”
Em outros países, a acessibilidade básica a deficientes físicos é encontrada em todos os lugares. Entretanto, o que impede o Brasil de chegar a esse patamar é a falta de recursos. Paula acredita que, no Brasil, as pessoas são preconceituosas em relação a isso: “Muita gente acha que acessibilidade é um favor. As pessoas ainda não estão de fato educadas sobre isso. Precisam entender que, hoje, você tem a saúde perfeita; amanhã, pode ter uma deficiência. Acessibilidade pode ajudar você amanhã. Falta essa perspectiva global por aqui. ”
Com a visibilidade que o blog ganhou, Paula decidiu escrever o livro “Crônicas da Surdez” (Plexus Editora), no qual resume tudo o que vivenciou e, inclusive, colocou relatos que recebeu em sua página. Na publicação, ela defende que a surdez não é homogênea que, nem sinônimo exclusivo de língua de sinais, de escola especial, de intérprete.
Cada vez mais as pessoas buscam a tecnologia para voltar ao mundo dos sons e isso deve ser amplamente divulgado, pois, de acordo com Paula, nosso país possui uma ótima política de reabilitação auditiva. Além disso, o livro trata de temas como preconceito, mercado de trabalho, aceitação e sobre o entendimento da deficiência.
Agora, Paula trabalha no lançamento do segundo livro, “Novas Crônicas da Surdez: epifanias do implante coclear”. A obra terá diversas histórias de deficientes auditivos, tanto brasileiros como estrangeiros, que conheceu em viagens que fez. “Meu desejo é inspirar pessoas a buscarem essa luz interior, que vai iluminar o caminho e mostrar que, ouvindo ou não, temos que correr atrás de nossos sonhos e transpor barreiras reais e emocionais. A surdez não precisa ser um caminho solitário.”
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