Dorina de Gouvêia Nowill, ficou cega aos 17 anos, devido a uma infecção ocular, e foi a primeira estudante cega a freqüentar um curso regular, na Escola Normal Caetano de Campos. Dorina escolheu ser professora e seu primeiro projeto foi a criação de um curso de especialização de professores para o ensino de cegos, na escola onde cursava o magistério.
Logo depois de se formar, conseguiu uma bolsa do governo americano, apoiados pela Fundação Americana para Cegos e pelo Instituto Internacional de Educação, lá ela se especializou na área de deficiência visual na Universidade Columbia. Quando voltou ao Brasil fundou uma imprensa de Braille, que hoje é a maior da América Latina, e logo criou o Departamento de Educação Especial para Cegos. Diante de seu empenho, de 1961 a 1973, dirigiu a Campanha Nacional de Educação de Cegos do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Em sua gestão foram criados os serviços de educação de cegos em todas as Unidades da Federação, o que mais tarde garantiu aos cegos o direito à educação.
Devido à todas as campanhas e eventos promovidos para a prevenção da cegueira, a professora foi eleita presidente do Conselho Mundial dos Cegos, e mais tarde criou a Fundação Dorina Nowill, para deficientes visuais, que produziu mais de 80% dos livros em Braille que existem hoje no Brasil, além de audiobooks, para facilitar a comunicação das pessoas cegas ou com baixa visão. A fundação lançou em 2007 o LIDA – Livro Digital Acessível, permitindo à leitura de todo conteúdo do livro, tanto audível como visual, com ferramentas de busca por palavra, navegação por todo o texto, soletração das palavras, visualização de notas de rodapé, substituições de abreviaturas pelo significado, pronúncias de palavras estrangeiras na fonética da língua, com o foco na melhoria da educação dos universitários e profissionais liberais cegos. Além de ter projetos que auxiliam os cegos em questões pessoais, educacionais, trabalhistas e muito mais.
Em 1981, ano Internacional da Pessoa Deficiente, discursou na ONU. E ainda colocou muito esforço na criação da União Latino-Americana de Cegos (ULAC), recebeu vários prêmios e medalhas nacionais e internacionais ao longo de seus 61 anos de trabalho à frente da Fundação. Dorina conta que viajou sozinha a Nova York, e depois de esbarrar em muita lata de lixo, aprendeu a se virar com a bengala ”Sem força interior não se encontram soluções. Viver tem que ser real, não pode ser uma história, é preciso viver e ‘viver é realizar’. A realidade, muitas vezes, é dura, mas é preciso enfrentá-la.” Disse a educadora em sua biografia.
A acessibilidade tem relevância especial nas sessões plenárias, que são exibidas com prioridade. Outros eventos legislativos, quando não são exibidos ao vivo, são gravados para serem veiculados em outros horários na programação, no mesmo dia ou posteriormente.
Em 1989, Dorina registrou mais uma vitória, o primeiro centro de reabilitação, que trata da reabilitação, do treinamento e da profissionalização de cegos, resultado de mais uma luta, que havia começado 18 anos antes com o primeiro centro de reabilitação criado pela fundação.
Em sua autobiografia, publicada em 1996, Dorina disse: ”Quando perdi a visão, percebi que algo tinha se modificado. Nesse momento tão particular, simplesmente surgiu uma força interior que me impulsionou a encarar a própria vida ‘sem ver’ e a importância que dei a outras possibilidades foi muito maior que o desespero de ter perdido a visão. Eu tinha de enfrentar as situações como elas se apresentavam e todos esperavam a minha reação; nesse momento foram surgindo soluções de acordo com meu temperamento e com minhas aspirações. Hoje acredito que não perdi aspirações, apenas tive de modificá-las um pouco, até mesmo para mantê-las, mesmo dentro de situações para as quais não estava preparada integralmente” e contou sobre suas vitórias em relação aos seus filhos e seu marido.
O Centro de Memória da Fundação Dorina Nowill para Cegos guarda a história de luta pela inclusão social em sua sede, na Vila Clementino, em São Paulo. Ali, uma exposição aberta ao público orienta museus a receberem pessoas com deficiência visual, e desde 2006, promove o programa de formação em acessibilidade para museus.
Estudantes cegos de todo o Brasil estudam com os livros produzidos na fundação. A Biblioteca Circulante de Livro Falado da Fundação Dorina Nowill para Cegos tem cerca de 900 títulos em áudio de obras de diversos autores, desde clássicos da literatura brasileira aos mais variados best-sellers internacionais. Esse serviço está disponível gratuitamente para pessoas com deficiência visual de todo o Brasil; ”Acreditamos que a educação seja o melhor caminho para a inclusão social. Para a pessoa com deficiência visual, ter acesso garantido à literatura, ao estudo ou ao entretenimento é questão primordial em seu desenvolvimento pessoal.” Disse Dorina Nowill.
Em 2009, durante as comemorações dos 200 anos de nascimento de Louis Braille, inventor do sistema braille, ela esteve empenhada em chamar atenção para questões relacionadas à deficiência. Na ocasião, Dorina buscou envolver a sociedade em uma ampla reflexão do uso do sistema como um instrumento indispensável para as pessoas com deficiência visual, tanto na educação quanto no exercício da cidadania com maior independência e autonomia. Neste mesmo ano, quando completou 90 anos, Dorina recebeu diversas homenagens por uma vida inteira dedicada à inclusão das pessoas com deficiência visual nas mais diversas áreas: cultura, educação, saúde e trabalho.
Em 2010, aos 91 anos, Dorina Nowill faleceu, vítima de uma parada cardíaca. Ela deixou cinco filhos e doze netos, e, claro, a Fundação que segue sendo uma referência em acesso ao trabalho, educação e à cultura para pessoas cegas.
“Vencer na vida é manter-se de pé quando tudo parece estar abalado. É lutar quando tudo parece adverso. É aceitar o irrecuperável. É buscar um caminho novo com energia, confiança e fé.”
Acesse o site da Fundação Dorina clicando aqui.
Quer ler a biografia completa? Clique aqui.