Ocupações desordenadas, desmatamento e grandes temporais são a terrível receita para tragédias como as vividas em São Sebastião, Niterói, Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis nos últimos anos. Segundo dados da ONU, o Brasil está entre os dez países mais afetados por catástrofes naturais. Quase sempre com dezenas de mortos. Ainda segundo a ONU, apenas metade dos países possuem alerta para estes desastres e a ausência destes avisos de emergência tem potencial de multiplicar por oito a taxa de mortalidade. No Brasil, eles começaram a ganhar relevância nos últimos quatro anos, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.
Uma tecnologia disponível há 15 anos e praticamente ignorada pelas autoridades é o serviço EWBS, ou Sistema de Alerta de Emergência por serviços de Radiodifusão, na tradução do inglês. O recurso já poderia estar em uso desde 2007, quando a televisão digital foi lançada no Brasil. Enquanto os serviços de detecção e análise de dados climáticos são aprimorados, o EWBS agilizaria a comunicação de alerta a grandes populações, salvando vidas. “O EWBS é uma solução de pronta resposta para a evacuação de perímetros sob risco de enchentes ou deslizamentos, pois realiza uma divulgação massiva através dos canais de TV da região afetada”, explica Marco Antonio Melo, diretor da SHOWCASE. “O mesmo se aplica a um eventual vazamento nas usinas nucleares de Angra dos Reis, por exemplo. Em qualquer destes casos, após a confirmação de uma emergência próxima ou em andamento, um banner com o alerta passa a ocupar parte da tela de todos os canais de TV da região, sem afetar o programa que está no ar”.
Lançado no Japão em 1985, o EWBS é baseado na tecnologia de transmissão televisiva ISDB-T, adotada pelo Brasil. Além do áudio e vídeo, as transmissões da TV digital também carregam dados ‘invisíveis’ sobre a programação, a acessibilidade e a interatividade. E é justamente com os recursos de interatividade que o EWBS trabalha. Após o acionamento pelo centro de gerenciamento de emergências, os dados do alerta são enviados à emissora previamente definida, que repassa o aviso às outras TVs da região. É um processo praticamente instantâneo.
Apesar de inúmeras demonstrações em eventos e congressos, nunca houve real interesse na adoção do Sistema de Alerta de Emergência por serviços de Radiodifusão no Brasil, especialmente pela ausência de regulamentação que determine as entidades responsáveis pelo acionamento dos alertas. Do ponto de vista técnico, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) já elaborou as normas técnicas para o sistema, para compatibilizá-las com as atualizações que o Brasil aplicou ao iniciar as transmissões padrão ISDB-T japonês. “O EWBS opera sem fios, com acionamento praticamente instantâneo, apoiando-se na infraestrutura robusta utilizada pelas emissoras de TV”, detalha Marco Antonio Melo. “Podemos salvar muitas vidas com uma solução consolidada internacionalmente, de baixo custo e implantação muito rápida. Confiamos que o governo federal, órgãos reguladores e emissoras se sensibilizem e tirem o EWBS da gaveta”.
Localização de desaparecidos pela TV
Uma tecnologia similar ao EWBS e igualmente desconhecida no Brasil é o Alerta AMBER (America’s Missing: Broadcast Emergency Response), um sistema de alerta de emergência criado nos Estados Unidos e no Canadá para notificar o desaparecimento de crianças. Ele foi criado em memória de Amber Hagerman, uma menina de 9 anos que foi sequestrada e assassinada no Texas em 1996. Quando uma criança é dada como desaparecida e atende a certos critérios, como idade, localização geográfica e nível de risco, pode ser solicitada a emissão do Alerta AMBER. Ele é transmitido ao público por canais de televisão, além de rádio, SMS e até sinais digitais de trânsito.
Assim como o EWBS, a camada de dados das transmissões de TV usada para enviar o Guia de Programação, Closed Caption e a Audiodescrição, também pode comunicar desaparecimentos e facilitar a localização nas primeiras horas. Fotos e informações de contato são agregadas à transmissão a partir de solicitação de órgãos do governo e exibidas, independente da programação que está no ar. “Colocar este serviço de extremo valor social em prática exige a adesão do governo e das emissoras, já que a maioria esmagadora dos televisores vendidos no Brasil é compatível com o Alerta AMBER”, enfatiza Marco Antonio Melo. “Mais de 200 pessoas desaparecem todos os dias no Brasil, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. É urgente empregar todos os recursos para reduzir estes números”.